Seria inconcebível pensar a infância sem a possibilidade do brincar.
Até cerca dos oito anos de idade a criança sadia vivencia o espaço ao seu redor com o corpo inteiro, de forma lúdica, sem se preocupar em entender o mundo de maneira intelectual. Ela se apropria do ambiente por meio de brincadeiras, utilizando movimentos livres, como rolar, correr, dar cambalhotas, saltitar, brincar em roda, dançar etc.
Desta forma, a atividade lúdica favorece o desenvolvimento motor e a percepção de si, do outro e do mundo, instrumentalizando a criança para atuar na sua realidade e permitindo a expressão do pensamento e do sentimento.
0 a 3 anos
Na vida intra-uterina e após o nascimento, toda experiência do bebê passa pelo corpo. É pela sua corporalidade que ele vai expressar suas sensações de prazer, desprazer, de bem-estar ou mal estar, dor ou conforto.
Depois de utilizar seus olhos e boca, é com as mãos que o bebê estabelece as primeiras relações consigo mesmo e com o mundo. Quando ele descobre sua mãozinha, ainda sem entender que pertence a ele mesmo, passa a brincar com seus movimentos. As mãos participam de toda a atividade de observação, exploração, descoberta e criação.
A Abordagem Pikler, desenvolvida pela médica húngara Emmi Pikler considera que o adulto não precisa ensinar a criança a sentar, engatinhar, andar etc. Não se deve adiantar nenhuma fase, nem colocar a criança em uma posição que ela não tenha conquistado por si mesma. Quando o bebê é colocado de costas sobre o chão com a coluna totalmente apoiada, ele estará seguro e terá a possibilidade de desenvolver suas habilidades motoras. Assim, os bebês passam, cada um a seu tempo, por todas as etapas da motricidade, em determinada ordem: virar de lado, virar de bruços, erguer-se apoiado nas mãos, ficar de quatro, engatinhar, sentar, ficar de joelhos, sentar no calcanhar, escorar-se em algo e ficar de pé, andar de quatro, sustentar-se em pé e andar.
A conquista própria de posturas permite que o bebê volte à posição anterior sempre que tiver vontade, de forma segura e controlada. Assim, ele pode experimentar essa situação diversas vezes, até que a nova posição esteja bem assimilada, sem que um adulto precise ajudá-lo. Embora cada postura tenha um período de predomínio, a postura anterior não desaparece completamente do repertório de movimentos do bebê. O esforço necessário para conquistar novas posições fortalece a vontade e desenvolve a autoconfiança.
As crianças de 1 a 3 anos têm necessidade de conhecer e sentir a consistência dos objetos. Para isso precisam tocar brinquedos e objetos de diferentes formas, cores, tamanhos, texturas e sons. Por meio destes materiais é possível incentivar a criação de brincadeiras que permitam desenvolver noções concretas de conceitos importantes como: dentro-fora; grande-pequeno; em cima-em baixo; liso-áspero; duro-mole; redondo-quadrado e assim por diante.
O adulto contribui quando reconhece e aceita o bebê em cada etapa do seu desenvolvimento, oferecendo condições para que a experiência seja vivenciada dando-lhe liberdade de movimentos.
O que a criança vive, brinca e experimenta é o que aprende. Respeitar seu ritmo é confiar na sua capacidade de desenvolvimento e independência. Para que isso ocorra é preciso não interferir desnecessariamente nas brincadeiras e movimentos.
Em numerosas situações, a autonomia da criança e o sentimento de competência são bloqueados pelo adulto, sob o pretexto de ajudá-la ou estimulá-la. Mas, desta forma, ele priva a criança de finalizar a ação que ela começou.
O espaço que favorece a brincadeira
O ambiente deve ser seguro, aconchegante e suficientemente amplo para que os bebês tenham bastante espaço a sua volta e possam descobrir e exercer suas possibilidades motoras enquanto brincam. Eles devem ser colocados no chão, revestido com piso quente, como por exemplo, madeira ou MDF, onde poderão interagir com seus pares, escolher o brinquedo e a maneira como brincar.
A partir de 3 meses, os bebês devem ficar nos berços apenas enquanto dormem ou repousam. Quando despertos, ficam na sala ou ao ar livre, rodeados de objetos simples e variados, com os quais podem brincar de maneira autônoma.
Também é importante brincar nas áreas externas, de preferência em contato com a natureza. Segundo Ute Craemer, idealizadora da Associação Monte Azul, vivenciar o brincar criativo e a interação com elementos da natureza faz com que a criança crie “uma ligação afetuosa com o mundo. Ela se conecta com a terra!